Ambiente na mídia #4
Boletim semanal sobre a emergência climática e ecológica.

Ilustração: Sébastien Thibault
Variações sobre um mesmo tema
A maioria absoluta das notícias ligadas ao meio-ambiente são apenas variações sobre uma velha história, a ganância destruindo tudo à sua volta:
destruição cada vez maior de ecossistemas (incluindo genocídio indígena)
empresas lucrando com isso
empresas querendo mais liberdade para explorar
governo ajudando essas empresas (em retribuição à ajuda que recebem)
políticos dizendo que é OK destruir nossos ecossistemas se isso for bom para a economia
os diversos efeitos desastrosos de tudo isso (incluindo Covid-19, que é consequência desse desequilíbrio natural extremo)
a negação desses efeitos ou de suas causas
a preocupação da sociedade (incluindo empresários) com toda essa (auto)destruição
empresas bolando formas de lucrar com essa preocupação (“lavagem verde”, mais sobre isso abaixo)
Lucro destrutivo
Um bom exemplo disso: ao mesmo tempo que o Pantanal passa pelo pior desastre em décadas, empresários do agronegócio comemoram um recorde nas exportações de soja:
Lembrando que a principal causa do desmatamento e queimadas é a expansão do agronegócio (principalmente pecuária e soja).

Imagem: Marizilda Cruppe / Greenpeace
Essa lógica de se comemorar os lucros de empresas com a destruição de nossos ecossistemas não se reflete apenas na mídia, mas é proclamada pelo governo:
Tirando os empresários e os políticos aliados, quem é que quer esse tipo de desenvolvimento? Aliás, dá para considerar isso um "desenvolvimento"?
Outra evidência de que esse sistema que torna milionários ainda mais ricos é o que está acabando com os ecossistemas essenciais para a vida:
Ou seja, as duas maiores empresas do Brasil estão justamente entre as mais perigosas: JBS, a maior produtora de carne (= desmatamento), e Petrobrás (combustíveis fósseis = emergência climática).
Retomada verde
O destaque que o jornal Estado de São Paulo vem dando à cobertura do meio-ambiente mostra um progresso e tanto na mídia. Todos os dias há diversas matérias com o selo "Retomada verde". Tomara que isso se espalhe pela mídia que ainda não acordou para a história do século:
“Evolução humana ameaça a própria civilização”
(não é incrível que quase nada esteja sendo falado sobre isso?)
No entanto, ainda há contradições gritantes (na mídia em geral) em relação ao meio-ambiente. Por exemplo, a presença constante de colunas e informes publicitários (disfarçados) defendendo a abertura da exploração do gás natural.
Qualquer pessoa informada sobre a atual emergência climática sabe que a exploração de gás natural é uma das principais causas do efeito estufa catastrófico que estamos vivendo.
Dentro de uma posição à favor da preservação do meio-ambiente, como é possível defender um aumento do efeito-estufa? Não é possível, então é preciso um silêncio sobre as causas da emergência climática.

Um exemplo:
Na verdade, uma economia mais "verde" poderia gerar 30 vezes mais do que isso, sem os efeitos desastrosos no clima:
No exterior, polêmicas em torno dos danos da exploração de gás continuam aparecendo. Por exemplo, o Guardian noticiou as táticas da indústria do gás na Inglaterra para barrar medidas ambientais (Revealed: how the gas industry is waging war against climate action).
Já na Austrália, cientistas estão alertando o governo para as consequências desastrosas de expandir a exploração do gás (Australia's chief scientist rejects experts' letter warning him not to back gas), e sendo ignorados. Por aqui, nem alerta há…
Lavagem verde
A maior parte das notícias ligadas ao meio-ambiente se refere a como empresas podem lucrar mais sendo sustentáveis. Parece uma mentalidade mais ecológica, mas no fundo é a velha história do "lucro em primeiro lugar".
Nos supermercados dos EUA, há vários anos já, a maioria das embalagens de alimentícios vem coberta de selos verdes, atitudes sustentáveis, orgânicas etc... Isso vende. No Brasil essa "lavagem verde" (greenwashing) parece estar começando a predominar só agora.

Acordo UE-Mercosul
Por pressão dos movimentos ambientais, é possível que alguns países europeus vetem o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul:
Merkel expressa pela 1ª vez 'sérias dúvidas' sobre o Mercosul, em razão da Amazônia
Contra desmatamento, ONGs pedem para França não validar acordo UE-Mercosul
Não vi na grande mídia nenhuma explicação de porque esse acordo prejudica mais do que ajuda. Então vale ler:
Negacionismo
Fala-se em negacionismo da Covid, negacionismo climático e anda muito em voga agora o “negacionismo amazônico”:
Seria cômica se não fosse trágica nossa política ambiental:
País acessa de graça imagens iguais às do satélite que Defesa quer comprar
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O colapso
Amazônia
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Mundo
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